sexta-feira, 16 de julho de 2010
Despedida
esse é o último post por aqui.
o blog agora está no wordpress.
Continuem acompanhando.
www.minhacircunstancia.wordpress.com
terça-feira, 29 de junho de 2010
De Getúlio a Lula - e, novamente, ao banco central
Agora é a vez do artigo do Emir Sader, Brasil, de Getúlio a Lula.
O texto, sucinto para tentar abranger 8 décadas da história social, política e econômica brasileira, discorre sobre os grandes movimentos contraditórios da sociedade brasileira, na defesa do atraso ou afirmação da vontade do progresso, na explicitação de valores pretensamente universais ou defesa do interesse nacional, a articulação do movimento social brasileiro ou a satisfação da redemocratização no plano jurídico-político, a vitória e o fracasso neoliberal dos anos 90 ou a redescoberta do Estado na presente década, já com um país completamente mudado.
Como não poderia deixar de ser, do ponto de vista acadêmico o texto apresente lacunas. Sua passagem superficial por pontos centrais da história brasileira podem questionar a validade de uma ou outra afirmação ou viés interpretativo. No entanto, é válido, do ponto de vista ensaístico, o paralelo estabelecido entre os "Brasis" de Getúlio e Lula, e determinante os desafios aventados para os próximos anos.
O paralelo se dá em três aspectos: a) Governo: tanto em Getúlio, como Jango ou Lula, marcado por coalização de classes, pluriclassistas, que assumiram projetos de unidade e desenvolvimento nacional, com intenso enfoque em políticas sociais; b) a base popular, c) as forças antagônicas são as mesmas, baseadas no hegemonia do capital financeiro, agronegócio e mídia oligárquica.
E, diante disso, os desafios, para Emir, estão na superação da base desses elementos que sustentam os defensores do atraso: hegemonia do capital financeiro, modelo agrícola e a ditadura da mídia privada.
A pergunta que fica é se um possível, talvez agora mais provável, governo Dilma Roussef teria condições e vontade, na nova coalização que se estabelece, de enfrentar esse tripé do antagonismo conservador. Parece sim disposta a discutir um marco regulador para a comunicação, o que, pelos gritos dos velhos oligarcas da grande imprensa tradicional, embora decadente, deve ser muito complicado. No que diz respeito ao campo, suas posições, ora vestindo o boné do MST e ora tentando enquadrar o movimento, não dão certeza de que conseguirá avançar, seja pela força do agronegócio ou pela falta de ousadia no avanço da reforma agrária que, de tão atrasada, já é falsamente acusada de anacrônica. E a hegemonia do capital financeiro se manteve no governo Lula, peso da herança dos anos neoliberais e fruto de escolhas desalinhadas de um governo que, como qualquer outro, não consegue aparar todas as contradições do processo decisório no plano estritamente interno.
O mais dramático, a meu ver, é que essa hegemonia está na base de sustentação desse governo. Se, a base da pirâmide social é acomodada por forte políticas de transferência de renda, o cume é agraciado com a benevolência do rentismo. Se não tão alto quanto no período anterior, ainda a ponto de garantir aos bancos os maiores lucros desse país. Não creio ser correta a insistência numa ruptura do modelo institucional do Banco Central, mas está claro que caberá ao sucessor de Henrique Meirelles um papel central para o êxito do enfrentamento desse desafio. Que, dessa vez, não seja escolhido no ninho tucano ou dentre os representantes do atraso, justamente essas forças antagônicas conservadores apontadas por Emir Sader.
domingo, 27 de junho de 2010
O que agregam os Vices?
domingo, 20 de junho de 2010
Instituições de Estado e carreiras públicas - o caso do portal do planejamento
A imprensa logo aproveitou do material para explorar as críticas e municiar a oposição. Reacendeu um franco de fogo amigo dentro do governo, e alguns dos principais veículos de comunicação do país repercutiram o tema, a começar pelo Valor Econômico, que deu a página especial de sexta-feira, a CBN, Estadão, Veja e Globo.
Como resposta, o governo retirou do ar o portal. E isso gerou nova polêmica na imprensa e também dentre os colegas analistas de planejamento e orçamento, que compõem a maioria do corpo técnico da secretaria. Misturaram-se, de um lado, naturais distintos posicionamentos políticos em uma carreira que abraça perfis diversos e incômodo do corpo técnico com a direção com as percepções com relação ao desenvolvimento do projeto e o posicionamento da carreira e da instituição dentro do jogo político do governo.
No meu ponto de vista, de quem tem na SPI a sua principal referência de trabalho mas vê o processo com uma certa distância, a discussão alimenta alguns debates que devem ser encarados de frente: a questão da neutralidade técnica, a separação entre Governo e Estado, mecanismos de incentivo ao exercício da democracia e transparência da ação pública e, por fim, a posição diferenciada que existe entre as instituições de estado e as carreiras públicas.
Defendo a mobilização nesse espaço. Seu fortalecimento acarretará o reconhecimento maior da carreira e a construção de um espaço próprio capaz de ser mais um mecanismo de aproximar Estado e Sociedade e de exercer pressão sobre o governo para a melhoria da oferta das políticas públicas. Não podemos esperar ou exigir das instituições de Estado uma postura além das limitações impostas pelas amarras ao governo, de qualquer coloração que ele seja.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
A sociedade que luta
O artigose divide em três partes: Uma caracterização sintética da evolução da sociedade brasileira, com ênfase nas diferenças entre os períodos de governo FHC e Lula(qual sociedade?); a segunda parte destaca os meios que deveriam ser mobilizados para avançar (como e para que lutar?); e a terceira o anúncio de um projeto de sociedade que se quer construir (sociedade de todos no século XXI).
Pochmann discorre aí suas idéias bastante conhecidas - e bem mais desenvolvidas - de outros textos, na qual defende a redução da jornada de trabalho, a entrada postergada no mercado de trabalho, a educação continuada ao longo da vida ativa, com ganhos de qualidade de vida e aumento do trabalho autônomo da população, que tende a chegar a uma expectativa de vida de 100 anos muito em breve. Invoca a necessidade de se construir um novo padrão de produção e consumo, condizentes com os princípios da sustentabilidade.
São, de fato, idéias inspiradoras de um dos maiores intelectuais brasileiros, na opinião desse modesto blogueiro. E a busca por essa sociedade deve caber à formação de uma nova maioria política sensível a esse projeto. Nessa hora, Pochmann é tímido, esquece que saiu dos gabinetes mofados da acomodada academia brasileira e está a frente de uma das mais qualificadas agências governamentais, o IPEA. Estimula a organização da sociedade para a luta, acomodando as forças do governo na inércia.
Mais ainda, os canais de interlocução da sociedade com o Estado são o ponto mais importante destacado pelos autores quando tratam do "como lutar". Ao lado disso, defendem o papel do Estado no planejamento de longo prazo, no desenvolvimento de um projeto de país, e da instigação da sua ação de modo mais matricial, trans e intersetorial. Turvou-lhe aí o olhar mais crítico para poder apontar que o atual governo, a despeito dos inegáveis avanços, poderia ter feito muito mais a conceber um espaço maior para o planejamento, fazendo-lhe entender a sua essência política, e não o entricheirando nas tecnicalidades formais.
Por fim, é tímido demais também no tratamento da financeirização da economia ao atenuar a força de suas críticas, compreensível no caráter e objetivo do texto que lhe foi encomendado, mas incômodo aos olhos dos muitos que vêem a urgência de avanços mais significativos nessa área e são contrariados com a postura sempre conservadora do Banco Central do Sr. Meirelles.
A mobilização social é, portanto, o norte do texto, que demonstra que as marcas mais sentidas da evolução da humanidade se deu nas bases de uma sociedade que lutou. Em período eleitoral, espero que não nos acomodemos com os acertos do governo Lula que, certamente, recomendam a eleição de sua candidata no quadro sucessório, mas que continuemos lutando.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Questões abertas da democracia participativa
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Complementaridades e princípios
No geral, o texto apresenta críticas superficiais à política externa do governo FHC e destaca as principais linhas da política externa de Lula, sem apresentar qualquer novidade em termos de propostas quanto à política externa de um possível novo governo comandado pelo PT. De fato, traduz que Dilma representa, sobretudo, à continuidade do Governo Lula, sendo este o seu principal mérito.
Dois temas são marcantes no texto de MAG. O primeiro se refere às complementaridades.
Complementaridades entre (a) as condições internas construídas durante o Governo Lula que preenche, segundo sua visão, uma lacuna histórica do desenvolvimento brasileiro - modernizar o país promovendo um mudança estrutural, sobretudo pelo enfrentamento das desigualdades e (b) a realidade do sistema internacional que transparece a queda da hegemonia americana e a ascensão da Ásia (China, Índia e Rússia) na construção de um mundo multipolar que ainda preza o multilateralismo. Dessa complementaridade, surgem as opções de movimentação internacional do Brasil, que mostra uma política externa ativa e altiva, nos dizeres do seu Chanceler. E que busca complementaridade entre altivez e solidariedade, e entre solidariedade e interesse nacional, principalmente no tratamento de sua grande prioridade - o relacionamento com os vizinhos sul-americanos. A integração regional, nesse ponto, é apresentada como um elemento constitutivo do projeto nacional de desenvolvimento.
A prioridade concedida à América do Sul é apresentada como parte complementar a um movimento maior de articulação Sul-Sul, no qual se destaca a articulação do Brasil junto à África do Sul e Índia, formando o fórum IBAS, à aproximação com os BRICs, além de fóruns inter-regionais que fortalecem a presença da América do Sul como sujeito político internacional.
O segundo aspecto destacado pelo professor Marco Aurélio Garcia são os princípios nos quais se assentam a atual política externa brasileira, que a difere da processada durante o governo anterior. Em primeiro lugar, um renovado sentimento de afirmação nacional de um país que busca ampliar seu espaço no cenário global, mostrar-se acima das suas sandálias, superar o complexo de vira-lata que norteara a projeção internacional do Brasil. Às críticas de partidarização da política externa, sua posição é firme: relembra-nos da filiação partidária do então chanceler Cardoso, ainda no governo Itamar, das linhagens tucanas de Celso Lafer, mostrando que, ao lado de outros exemplos, essa é uma prática normal que perpassa todos os governos. A implementação de políticas não deve ser um exercício meramente técnico. defende com razão.
Em segundo lugar, a confiança em um multilateralismo renovado, que possa lhe conferir nova legitimidade e perfil democrático. A adjetivação do multilateralismo invoca a necessidade de reforma das principais instituições que conformam a atual ordem internacional, desde o CSNU, até o FMI e Banco Mundial, advogando ao Brasil um papel importante nessa construção. Não serviria a diplomacia a uma mera função pedagógica, ensinando os atores domésticos a se comportar de acordo com as normas internacionais, mas estaria ela, antes disso, envolvida e esforçada na construção dessas normas.
O autor não sublinha, contudo, as eventuais dificuldades que o sistema internacional impõe ao Brasil a partir do momento que se mostra um ator menos coadjuvante no palco mundial. As defesas dos EUA para evitar o seu próprio declínio econômico e político, as concorrências com os novos emergentes e os múltiplos arranjos existentes entre as tradicionais e novas potências.
Na tradução do seu presente, faltou uma leitura mais cuidadosa do atual sistema internacional e das suas possibilidades futuras. A complementaridade das relações sul-sul com aquelas tradicionais e importantes ligações com o norte também foi um tanto negligenciada. Conquanto isso possa ainda impor dúvidas sobre as melhores opções de política externa a serem executadas no futuro próximo, não deveria obscurecer o destaque que merecem os avanços obtidos pela atual política externa com relação ao seu passado mais recente.
domingo, 30 de maio de 2010
As contradições da estratégia dos Estados Unidos
quarta-feira, 26 de maio de 2010
A política externa no debate eleitoral
domingo, 4 de abril de 2010
Futebol e religião: uma mistura sadia?
Dificilmente um fiel da igreja que goste de futebol vai mudar de time por conta da vinculação da imagem de um jogador "irmão" a determinado time. Até porque é muito difícil que esse jogador fique muito tempo num time só. É mais razoável supor que a imagem desses jogadores atraiam pessoas à sua igreja, que pode ser entendida como parte da justificativa para seu sucesso. O clube passa a ser mais um veículo de propaganda das igrejas.
São paixões, símbolos e crenças que viram um grande negócio, e os negócios, que já se parecem, se entrelaçam cada vez mais. O esporte, incentivo à saúde, à disciplina, ao estabelecimento de metas e à busca dos objetivos, vira também a apologia a uma prática religiosa. Em tempos de intolerância, pode alimentar a segmentação. Tanto que a FIFA proibiu manifestações de cunho religioso nas suas competições.
Dada que a origem social da maioria dos jogadores seja justamente o foco de atuação dessas igrejas, é normal que essa relação aconteça. Também considero que elas possam sim ter influência, ao menos indireta, no sucesso desses atletas, ao desviá-los de práticas menos nobres. Todavia, não acho sadia essa mistura de paixões e crenças. Preferências futebolística e religiosa não se discutem, nem deveriam se misturar desse tanto.
sábado, 3 de abril de 2010
A distância entre a opinião pública e a grande imprensa.
Com o jogo eleitoral apenas no início, não se pode menosprezar o papel do partido da grande imprensa (ou partido da imprensa golpista - PIG, como o batizou Paulo Henrique Amorim). No extremo, lembremo-nos da Tribuna da Imprensa nos acontecimentos que levaram ao suicídio de Getúlio.
Mas, de fato, já no plebiscito do desarmamento, com toda a posição favorável da mídia e a derrota do "sim", a população não aceita passivamente o que a imprensa lhe apresenta. A declaração da Sra. Brito torna explícito o que era latente e que passava despercebido, e provavelmente continuará passando, para a maioria dos seus leitores médios. Aos poucos que tivemos acesso e conhecimento do fato, o que nos resta é reverberar.
Mas, além disso, importa refletir sobre as razões da distância entre opinião pública e a da grande imprensa.
Em primeiro lugar, creio que a internet tem um papel decisivo. Segundo o IBGE, pouco mais de 35% dos brasileiros têm acesso à internet. Desse universo, um número bem menor deve ser o que consegue navegar por páginas que não sejam dos grandes grupos de comunicação, e um grupo menor ainda produz conteúdo. Ainda assim, o acesso à informação está mais democratizado e a velocidade com que a informação pode ser repassada impressiona. Dessa forma, os grandes factóides e crises artificialmente construídas se desmontam rapidamente, embora deixem seqüelas, mas afetam cada vez mais a credibilidade da imprensa que usa desses expedientes. O Caso da Veja e da FSP são os mais conhecidos. Relacionado a isso, a queda na venda dos grandes jornais também deve ter influência no processo.
A situação econômica do país nos últimos anos, mesmo considerando a crise financeira internacional, e o amparo às regiões e populações menos aquinhoadas reforçado pelas políticas de transferência direta de renda dão uma sensação geral de que o Brasil está melhorando. Para muitas dessas pessoas, essa sensação é muito mais importante do que as manchetes nebulosas dos jornais, os quais muitos mesmo não lêem.
Por fim, creio que o próprio carisma do Presidente não deve ser negligenciado. Sua imagem e o que ela representa para o povo podem também explicar boa parte da dissonância entre a posição da imprensa, que não se cansa em denunciá-lo das mais variadas formas, de megalomaníaco a estuprador, e a população que o reconhece como um de si.
Analisando o cenário futuro, caso vença a candidata governista, esse fator deve diminuir. A figura de Lula não estará ao seu lado durante todo o seu governo, e ela não conta com o carisma inigualável do atual presidente. Nesse aspecto, a oposição midiática pode ganhar terreno, e com isso, radicalizar ainda mais a sua posição, exercendo um papel ainda mais oposicionista num possível governo de Dilma Roussef.
Para fazer o contrapeso, o sistema de inclusão digital, banda larga e, principalmente, educação, deve ser colocado no topo das prioridades. E, obviamente, junto com um ótimo jogo de cintura e excelente assessoria de imprensa para o seu governo. A radicalização desse jogo não interesserá ao Brasil. O estigma de Chavizta já está lhe sendo imposto, mas a instabilidade política pode estar sendo gerada do lado oposto.
terça-feira, 23 de março de 2010
A Cúpula de Cancun na Política Externa Brasileira: redefinições ou continuidades?
segunda-feira, 8 de março de 2010
Neo-desenvolvimentismo X estado logístico
Esse parece ser o equívoco de alguns conceitos interpretativos da história política e econômica brasileira, inclusive, e particularmente, da sua política exterior. A política externa para a América do Sul concebida e executa pelo Governo Lula, por exemplo, é inequivocamente distinta da empreendida pelo seu antecessor, mesmo se considerarmos apenas o segundo mandato de Cardoso, no qual se considera que a política externa tenha sido mais ativa para a região, ainda que os dois tenham conferido à região um status prioritário na estratégia de inserção internacional do país.
A despeito disso, alguns elementos-chave para a tentativa de racionalização acadêmica do entendimento da atuação do estado persistem ao longo do tempo, sobrevivendo a mudança de governos, regimes e partidos políticos. Não poderia haver exemplo melhor disso do que a insígnia do desenvolvimento como norte da nação.
O desenvolvimento esteve no centro do modelo nacional-desenvolvimentista que se sobressaiu no estado brasileiro na maior parte do século XX. Mas o desenvolvimento não saiu do horizonte na alvorada e no crepúsculo do (neo)liberalismo que se insinuou na nossa paisagem na última década do século passado. Todavia, as estratégias para alcançá-lo eram, definitivamente, outras. Outras, que, a bem dizer, por manterem o desenvolvimento como norte, também poderiam ser chamadas de neodesenvolvimentistas. Afinal, era o desenvolvimento da nação sendo buscado por meios inovadores de desregulação, desestatização, introspecção de normas e receituários internacionais na legislação nacional.
O avanço com relação ao período anterior consolidado no governo Lula, principalmente no seu segundo governo, insere-se num contexto de amadurecimento da sociedade nacional, a partir da crítica ao período imediatamente anterior, mas também, e talvez principalmente, numa realidade social e econômica distinta daquela vivida pelo país em meados do século passado.
Tentar rotular, nessa linha, a estratégia de continuidade do seu governo como neodesenvolvimentista, traz, a meu ver, dois erros. Primeiro, limita a visão de mundo e a percepção da realidade e, segundo, provoca um debate desnecessário com os setores conservadores.
Nesse ponto, a construção do Prof. Amado Cervo do paradigma de Estado Logístico me parece mais adequada para a estratégia da candidatura governista. O rótulo do Estado logístico, como propaganda, poderia, inclusive, soar mais moderno, para dizer coisas muito semelhantes ao do "novo-desenvolvimentista", e sem a pecha "intervencionista", "Chavista" ou "anacrônica" a que a mídia e analistas começam a fazer uso.
Recomendo, nessa linha, os textos "Relações Internacionais da América Latina: Velhos e novos paradigmas", e "Inserção Internacional: Formação dos Conceitos brasileiros", ambos do Prof. Cervo.
Lembro-me também de ter aprendido com o professor Campolina que o Estado não pode ir contra o mercado. Deve apoiá-lo onde houver convergência, e na divergência deixá-lo caminhar com suas próprias forças. Não se trata de afrontar ou sufocar o setor privado, pois isso leva, muitas vezes, a embates sociais que põem em risco a própria democracia.
E o estado logístico opera dessa forma. Impulsiona, incentiva, apóia as empresas brasileiras a ganharem fôlego e a competirem internacionalmente. Valem também as palavras de Pochmann de que, em algumas décadas, "a economia mundial será dominada por cerca de 500 megaempresas. Quantas empresas o Brasil terá?" E, para isso, o Estado é necessário. O Estado logístico também não se exime de ir onde o mercado não tem interesse, de investir em infra-estrutura, de usar seus instrumentos para promover a pesquisa, mas, sobretudo, se faz presente na mediação dos interesses entre setores de uma sociedade cada vez mais complexa, num ambiente internacional, da mesma forma, cada vez mais complexo.
Mais do que um nome, ou pura questão de forma, o conceito revela um conteúdo que, a meu ver, expõe de forma clara as linhas de uma política que já vem sendo implementada pelo atual governo. Mas, ainda assim, me atrevo a dizer que, em termos de marketing, poderia também ser uma boa escolha. Ainda que possam significar coisas muito semelhantes, enquanto um olha para o futuro, o outro está preso às referências de um passado que, embora possa se considerar positivo, pode insinuar imagens confusas, ainda mais se distorcidas pelo intermediador das mensagens, de forte ranço conservador.
domingo, 21 de fevereiro de 2010
A atuação plena e o papel de uma nova burocracia
Obviamente, não é aplicável a todos, mas me parece essa ainda uma "força profunda" dentro do estado. Uma força despolitizante e acomodada. Há alguns, no entanto, que passam a se movimentar, e fazer coceira no corpo enferrujado da burocracia. Espero que esteja certo o velho ditado que vaticina que comer e coçar, é só começar...
Creio numa atuação em quatro bases, para o bem do burocrata, da nação e da própria burocracia. A atuação na tecnicalidade do estado(1) tem que ser moderada por uma reflexão acadêmica-científica (2), de modo a lhe evitar os vícios e oxigenar as ideias. Sobretudo, porque o burocrata, além de executar, deve pensar.
Ainda, defendo a vivência cidadã, a experimentação do espírito associativo. É preciso o envolvimento para o conhecimento da realidade em que vive, e a atuação para modificá-la. Associações de classe, de bairro, de pais e mestres, de igrejas, enfim.... A sociedade cria esses espaços, mas é necessário iniciativa para preenchê-los.
Por fim, a cidadania também pede envolvimento político. Mais que isso, defendo que as pessoas tomem partido. O conteúdo é mais importante que o processo, não que este não tenha o seu valor. E, junto com a reflexão acadêmica, a expressão programática da política não deve ser evitada. Tecnocracia e política não deveriam ser termos contraditórios. A política nos invade em vários aspectos. Negá-la é aceitá-la silenciosamente, eximindo-se do direito de fazer escolhas.
Que os novos servidores públicos consigam perceber seu verdadeiro papel enquanto agentes transformadores da nação. Elo entre o Estado e a sociedade, e parte de cada um deles. Entendendo e servindo de canal para as forças sociais, e não se autoreferenciando como a expressão mais esclarecida do dever ser do país. Para isso é que nos serve a democracia e a transparência, valores maiores que a tecno-burocracia.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Às ideias e ao jogo de palavras
Passado o carnaval, esse debate parece ter entrado na agenda da mídia. Ainda que o centro das atenções estejam mormente na definição das chapas, se Serra realmente será candidato ou Aécio retomará sua candidatura (já tem gente especulando em chapa Aécio/Alckmim http://is.gd/8AeAp), se Ciro permanece na disputa pelo Planalto ou caminha rumo ao Bandeirantes, além das encenações sobre a escolha dos vices, começam a aparecer, ainda que apresentado pela mídia estrangeira (será que a mídia nacional desaprendeu?) temas que ajudarão, de fato, os eleitores a definir os seus votos para as eleições de outubro.
O lado ruim é que o debate começou torto. Hoje, o periódico espanhol El País afirma que Dilma fará um governo à esquerda de Lula, depois de ter afirmado que, Serra ganhando, Lula sairia tão vencedor quanto na eleição de Dilma, anunciando uma amizade de longa data entre José Serra e o Presidente Lula. A mídia local, como sempre, repercute.
O Congresso do Partido dos Trabalhadores que ocorre nessa semana em Brasília promete trazer novidades para essa discussão. Analisando o já anunciado livro que vem com uma entrevista com Dilma se terá melhor noção do direcionamento do seu governo, caso eleita.
Porém, o que me parece, pelo que foi apresentado pela mídia e propagado nos blogs que se dedicam ao tema, é que a Dilma promete a continuidade do segundo mandato do Governo Lula, e não uma proposta mais à esquerda. Isso me cheira a interesses que, daqui mais uns dias, tentarão carimbar uma feição chavista ao programa do PT.
O rumo do grande embate dentro do governo Lula, embora ainda não totalmente finalizado, já vinha sendo favorável a um forte papel do estado enquanto orientador e promotor de iniciativas que lhe interessam, que não são, necessariamente, contra o mercado, mas que orientam-se pela superação das desigualdades sociais e regionais, um estado que consiga forjar o desenvolvimento baseado, idealmente num mesmo nível, em eficiência e eqüidade.
Dilma, ainda que totalmente diferente de Lula (assim como Serra, o que serve para um discurso de tentar igualar os dois candidatos), parece óbvio, representará a continuidade desse projeto, claro particularmente no segundo governo, que se mostrou mais forte com a postura brasileira perante a crise internacional e a forma como consegui se sair, até o momento, dela.
Pouco antes disso, o PSDB tinha começado a mostrar a que veio também, com a entrevista de Sérgio Guerra e o artigo do FHC. Um, num discurso esquizofrênico, contra o PAC e a política monetária, outro defendendo seu governo, contra às evidências.
O jogo está apenas começando. As eleições ainda estão longe e muita coisa pode acontecer. Agora é que os discursos começarão a ganhar concretude, apresentando suas forças e fragilidades. Ainda que haja jogo de palavras movimentados pelos interesses imparciais da mídia, poderemos começar a nos municiar para firmar a nossa posição.
Em tempo: Hoje tem programa do PSB, com Ciro Gomes nos holofotes.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Os desafios para Dilma e para o PT
EMIR SADER
Nas eleições deste ano será definida a fisionomia do Brasil em toda a primeira metade do século. Será um elemento fundamental para consolidar os avanços na América Latina. Conta-se com um governo de sucesso e amplo apoio na população, com a liderança do Lula, com um partido coeso e com uma grande candidata.
Dilma representa mais do que uma mulher competente, enérgica, comprometida, mais do que a coordenadora de um governo que mostra que se pode mudar o Brasil para melhor, retomar o desenvolvimento econômico estreitamente articulado com políticas sociais.
Dilma representa também o espírito militante, forjado nos anos 60, no calor dos momentos mais duros de luta contra a ditadura, que soube manter acesa a chama dos ideais de transformação profunda da realidade, passando pelo crivo das novas condições de luta. Nós nos conhecemos naquela década extraordinária para o mundo, na militância clandestina de resistência à ditadura, na mesma organização, na mesma luta.
Segui sua trajetória de longe, até reencontrá-la em um Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, secretária do governo do Tarso, com a mesma alegria, luminosidade no olhar, combatividade, companheirismo. Quando saiu, pela primeira vez, a notícia da possibilidade de que ela fosse a candidata, imediatamente busquei uma forma de manifestar meu entusiasmo sobre essa possibilidade. Voltar a trabalha com ela, no livro que lançamos agora no Congresso do PT – “Brasil, entre o passado e o futuro”, Editoras Boitempo e Perseu Abramo, Organizadores: Emir Sader e Marco Aurélio Garcia -, serviu para me dar conta que a Dilma é a mesma, desde aqueles anos 60 até hoje e projetada para o futuro, que inspira confiança, compromisso, sensibilidade política, capacidade e energia. É a melhor alternativa para se dar continuidade, aprofundando, no processo de construção de um Brasil para todos.
Um balanço do estado do país que se recebeu, das transformações que foram feitas e das que restam por fazer para a construção de um Brasil para todos, solidário, humanista, soberano e democrático, aponta essencialmente para três temas – entre tantos outros.
O neoliberalismo, ao desregulamentar a economia, promoveu uma gigantesca transferência de recursos do setor produtivo para o financeiro – sob sua forma especulativa. O endividamento dos países periféricos favoreceu a promoção desse capital a lugar privilegiado, capaz de produzir crises e desestabilização de governos, com seus ataques especulativos.
As independências – legais ou de fato – dos Bancos Centrais são expressões dessa hegemonia, assim como as altas taxas de juros, que remuneram esse capital, que por sua vez é parasitário, não produz bens, nem empregos, além de frear a capacidade de expansão da economia. As mudanças na política econômica do governo Lula, com a retomada do papel do Estado como indutor do crescimento econômico, fortaleceram contrapesos à hegemonia do capital financeiro, mas as tensões sobre taxas de juros – entre outras – revelam como o tema está pendente.
A passagem a um outro modelo, que promova expressamente a hegemonia do setor produtivo – sob suas distintas modalidades e em distintos setores da economia – ao lugar hegemônico, é um tema pendente, do qual depende não apenas a sustentabilidade econômica do Brasil, como a geração de empregos, a disponibilidade de recursos para políticas sociais, entre outros temas chaves no destino do país. A reincorporação do Banco Central como elemento orgânico articulado com o conjunto da política econômica do governo é outra questão pendente.
Por outro lado, o campo brasileiro – e, em grande medida, latinoamericano –passou por um processo de modernização conservadora, com a proliferação das grandes propriedades vinculadas ao agronegócio, que mudaram o panorama agrário no país. Intrinsecamente vinculado a esse processo esteve a proliferação dos transgênicos, nas grandes, medias e pequenas empresas. Se fortaleceu a pauta exportadora, deteriorando a terras, em detrimento da autosuficiencia alimentar, da economia familiar, da produção para o mercado interno.
A construção de um modelo agrário que contemple a exportação, mas que, antes de tudo, fixe os trabalhadores no campo, mediante a reforma agrária pendente, que incentive ainda mais a produção das pequenas e medias empresas, que coloque limites aos transgênicos e cuide da qualidade da terra, resta sem dúvida como uma questão central para o segundo mandato.
Uma terceira questão a enfrentar é a da quebra do monopólio empresarial da mídia privada. Não haverá um Brasil democrático sem formação democrática da opinião pública, para o que é necessário atuar em distintas direções. Primeiro, deixar de seguir privilegiando recursos governamentais em publicidades nos órgãos que representam cada vez menos – basta dizer que atacam todos, todos os dias, ao governo, e só conseguem ter 5% de rejeição do governo. Democratizar o acesso às publicidades do governo, seguir na linha de descentralização, de fomento às distintas formas de imprensa alternativa, incluindo rádios comunitárias, blogs e outras formas novas.
O que não impede que se tenha que fortalecer e melhorar muito os espaços da imprensa pública. É preciso melhorar a sua qualidade, seus recursos, democratizá-la ainda mais, articulá-la regional e internacionalmente, fazendo com que tenha papel central nas novas pautas do país e do mundo, participando dos grandes debates que o Brasil tem que enfrentar, junto às forças populares e culturais.
Em suma, democratizar econômica, social, política e culturalmente o Brasil é centralmente promover a esfera pública, a universalização dos direitos, revertendo o imenso processo de mercantilização da sociedade promovido pelo neoliberalismo, no corpo social, no Estado e nas mentes das pessoas.
Dois grandes desafios se colocam para o PT – além desses, a ser atacados a partir do governo. O primeiro é o desafio de centrar o trabalho de massas no apoio à organização desses imensos contingentes “lulistas” – para designar de alguma forma os amplos setores beneficiários das políticas sociais do governo, que o apóiam firmemente – e à sua consciência social, política e cultural, que ajude a transformá-lo em um sujeito político ativo no novo bloco social no poder que se necessita construir.
Essa é uma tarefa do PT como partido, mas também com os movimentos sociais e culturais, que deve traduzir as grandes transformações econômicas e sociais que o país está vivendo, em transformações políticas e culturais. Representaria mudar a base social em que se assenta o partido, reinserindo-o no novo panorama que a formação social brasileira apresenta, neste caminho de saída do modelo neoliberal para um pós-neoliberal.
A outra grande tarefa é a de geração, por múltiplos condutos, de novas formas de sociabilidade, alternativas ao “modo de vida norteamericano”, centrado este no consumismo, no individualismo, na violência, nas drogas, em religiões alienantes. Traduzir a generosidade das nossas políticas sociais em valores de solidariedade, de cooperação, de desalienação das consciências, de humanismo. (Mutirões como um para lugar contra o analfabetismo ainda fortemente reinantes entre nós, contribuiriam para isso).
Encarar e resolver positivamente esses desafios é encarar os maiores desafios na construção de um Brasil justo, soberano e solidário.
TEXTO DE EMIR SADER, PUBLICADO EM CARTA MAIOR, 12/02/2010
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
O Parlasul e a construção da América do Sul
domingo, 24 de janeiro de 2010
Acerca de Chile e Ciro
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
A Bandeira do Planejamento
As expectativas para o crescimento da economia brasileira em 2010 são boas.
A retomada dos investimentos do Estado, vencendo a briga de foice com os monetaristas do banco central e as viúvas da Fazenda do Dr. Palocci, vem contribuindo para isso durante esse segundo governo Lula, inaugurado com o lançamento do PAC.
Todavia, mais do que crescer, é preciso saber em que direção. Não é à toa que muitos analistas indicam que o crescimento brasileiro está se dando em torno da retomada das exportações/preço das commodities, outros enfatizam a força do mercado interno, massificado pelas políticas de fortalecimento do salário mínimo e de transferência direta de renda.
Saber qual o Brasil que teremos no futuro, construir essa visão e buscar concretizá-la são tarefas do Planejamento. E o fortalecimento desse instrumento, sua capacidade de orientação, coordenação ou cooperação multissetorial, com densa base territorial, é, por si só, uma bandeira legítima a ser levantada.
E essa bandeira tem mobilizado um grupo de analistas de planejamento, dentre os quais o autor desse blog. A intenção é promover o debate sobre o planejamento no Brasil e na América do Sul, criar oportunidades de capacitação dos servidores e mecanismos para incentivá-los, de modo a contribuir para que o Estado cumpra o seu papel de reflexão e ação na busca do desenvolvimento.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Eleições 2010 – a definição dos vices.
Nesse contexto pré-eleitoral, estou ansioso para ver os planos de governos que serão apresentados pelas chapas que disputarão o planalto. Todavia, é uma ansiedade controlada, porque sei que os planos abordam muitos temas com certa generalidade, o que não poderia ser diferente.
Portanto, outro indicador das linhas possíveis que serão adotadas pelo presidente eleito pode ser a definição dos vice-presidentes na chapa. Esse assunto chama mais a atenção da mídia interessada que busca fulanizar a discussão.
O meu interesse não é pelo nome em si, mas o que representa em termos de orientação estratégica de governo.
Senão, vejamos:
A chapa do governo hoje apresentada como a mais provável, Dilma-Temer, representa a continuidade do que foi feito principalmente no segundo governo Lula, que já trazia uma vitória da ala mais desenvolvimentista, que pedia mais investimentos, com relação àquela representada por Palloci e Meirelles, interessada mais no controle do caixa.
Agora, caso a chapa seja Dilma – Meirelles, pode representar uma orientação diferente, ou seria apenas um para conquistar o eleitor satisfeito com a estabilidade financeira que se credita na conta do presidente do Banco Central?
E se o PMDB do B tiver força para lançar Requião? Será que haveria uma jogada de Requião ser o vice de Dilma, em torno do programa que ele representa, vinculado às idéias de Mangabeira Unger e outros nacionalistas, como Carlos Lessa e Darc Costa?
Ou sendo Requião candidato, haveria a possibilidade de Ciro ser vice de Dilma, ficando o apoio do PMDB para o segundo turno? O que isso significaria em termos de política econômica e de políticas sociais?
Os dois último são Lulistas. Defendem os avanços sociais alcançados pelo atual governo. Um fala no comprometimento da política econômica com o capital vadio, o outro fala bate mais na questão da institucionalização dos avanços alcançados.
E do lado da oposição? Com os acertos no Rio de Janeiro, será que tem chance de ocorrer a Chapa Serra-Marina? Parece que a Chapa Marina Silva-PSOL ficou inviabilizado com o movimento de aproximação do PV com o PSDB no Rio de Janeiro, e a Marina tomou o rumo da direita.
Ainda assim, meu palpite é que essa chapa não vingará. Marina e Serra serão candidatos em chapas distintas em 2010. E Marina deverá apresentar-se neutra no segundo turno.
Ciro sai candidato? E com que vice, com qual coligação? Qual o projeto? Em que consegue se diferenciar da proposta do PT? Dizem que, nos bastidores, poderá contar com o apoio do Aécio.
Começam os estaduais 2010
Depois de muitos ensaios, o primeiro post do blog acaba sendo sobre futebol mesmo, parte da circunstância que me envolve.
Os atuais clubes-empresas em que se transformaram nossos times os aproximaram da lógica de operação das igrejas neopentecostais. As estratégias do moderno marketing esportivo dos clubes trabalha a paixão do crente, do torcedor. O ato de torcer se converte no ato de consumir os produtos oficiais, os planos de associação, os passaportes para os jogos. O crente, movido por sua fé, contribui periodicamente com a igreja, compra os livros, cartilhas, cânticos e vídeos. Usam de um sentimento elevado para aumentar sua rede e aumentar o seu lucro.
Ao mesmo tempo em que os clubes foram lançados no mercado global por conta da divisão internacional do futebol cujo centro é o mercado europeu, ao qual se agregam agora os novos mercados asiático e árabe, os clubes foram cada vez mais se desterritorializando, se desconectando da comunidade ao seu redor que lhe dava suporte. Os clubes são agentes de um mercado global, movimentam-se por meios de empresários do futebol que se conectam a redes internacionais, e não mais o retrato do esforço da comunidade, para a qual você torcia como parte de torcer por si mesmo.
Assim aprendemos a torcer desde pequenos. Pelos nossos pais, amigos, vizinhos, quando os acompanhamos nos primeiros passeios esportivos. Ficava ansioso quando o meu pai ou meu irmão mais velho me convidavam para acompanhá-los em alguma pelada. A sua vitória era a minha vitória, a nossa vitória. Depois, essa relação se transfere para a escola. Torcemos pelo time da nossa turma, depois pelo time da escola nos eventos inter-escolares. E o mesmo sentimento temos em relação ao time da nossa cidade, que algumas vezes ainda são parte do clube que freqüentamos e somos sócios.
Quando alguém critica os campeonatos estaduais, logo essa relação que me vem a mente. E o que aconteceria com esses times que movimentam, ou movimentaram, as cidades pequenas, os torcedores que apoiavam não apenas o time, mas a sua cidade e queriam vê-la superar a cidade vizinha, sempre rival? Agora, essa relação não movimenta milhões, não gera o espetáculo televiso ao grande público. Mas está na base de todo o negócio que se transformou o futebol.
A evolução do futebol soube aproveitar essas ligações emotivas que temos com o ato de torcer, com a paixão que nos liga a uma instituição, e transformou isso num grande negócio. Você está ligado a um símbolo superior, que toma seu espaço quase naturalmente estimulado pela família ou amigos que crêem. Algumas vezes, toma o espaço da família, o tempo dos filhos, ou, mais forte ainda, se torna parte da família. É mais um filho que você tem que cuidar. Se não cuidar, pode perder, e a culpa será sua.
É por isso que futebol não dá espaço para a racionalidade. É um fundamentalismo aceito e estimulado, embora algumas vezes inclusive violento.
E é por isso que é tão difícil se desvincilhar dele. Que venham os estaduais. Que sejam bem-vindos os clubes do interior.
E dá-lhe Grêmio.