quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Às ideias e ao jogo de palavras

Já escrevi aqui sobre minha ansiedade de ver entrar no debate político/eleitoral (sim, porque ainda que os partidos apresentem seus recursos ao supremo alegando campanha antecipadas de parte a parte, não há como separar política de eleição em ano eleitoral) as ideias, materializadas nos programas de governos de cada candidato, embora reconheça que, por vezes, esses documentos se prendam a generalidades.
Passado o carnaval, esse debate parece ter entrado na agenda da mídia. Ainda que o centro das atenções estejam mormente na definição das chapas, se Serra realmente será candidato ou Aécio retomará sua candidatura (já tem gente especulando em chapa Aécio/Alckmim  http://is.gd/8AeAp), se Ciro permanece na disputa pelo Planalto ou caminha rumo ao Bandeirantes, além das encenações sobre a escolha dos vices, começam a aparecer, ainda que apresentado pela mídia estrangeira (será que a mídia nacional desaprendeu?) temas que ajudarão, de fato, os eleitores a definir os seus votos para as eleições de outubro.
O lado ruim é que o debate começou torto. Hoje, o periódico espanhol El País afirma que Dilma fará um governo à esquerda de Lula, depois de ter afirmado que, Serra ganhando, Lula sairia tão vencedor quanto na eleição de Dilma, anunciando uma amizade de longa data entre José Serra e o Presidente Lula. A mídia local, como sempre, repercute.
O Congresso do Partido dos Trabalhadores que ocorre nessa semana em Brasília promete trazer novidades para essa discussão. Analisando o já anunciado livro que vem com uma entrevista com Dilma se terá melhor noção do direcionamento do seu governo, caso eleita.
Porém, o que me parece, pelo que foi apresentado pela mídia e propagado nos blogs que se dedicam ao tema, é que a Dilma promete a continuidade do segundo mandato do Governo Lula, e não uma proposta mais à esquerda. Isso me cheira a interesses que, daqui mais uns dias, tentarão carimbar uma feição chavista ao programa do PT.
O rumo do grande embate dentro do governo Lula, embora ainda não totalmente finalizado, já vinha sendo favorável a um forte papel do estado enquanto orientador e promotor de iniciativas que lhe interessam, que não são, necessariamente, contra o mercado, mas que orientam-se pela superação das desigualdades sociais e regionais, um estado que consiga forjar o desenvolvimento baseado, idealmente num mesmo nível, em eficiência e eqüidade.
Dilma, ainda que totalmente diferente de Lula (assim como Serra, o que serve para um discurso de tentar igualar os dois candidatos), parece óbvio, representará a continuidade desse projeto, claro particularmente no segundo governo, que se mostrou mais forte com a postura brasileira perante a crise internacional e a forma como consegui se sair, até o momento, dela.
Pouco antes disso, o PSDB tinha começado a mostrar a que veio também, com a entrevista de Sérgio Guerra e o artigo do FHC. Um, num discurso esquizofrênico, contra o PAC e a política monetária, outro defendendo seu governo, contra às evidências.
O jogo está apenas começando. As eleições ainda estão longe e muita coisa pode acontecer. Agora é que os discursos começarão a ganhar concretude, apresentando suas forças e fragilidades. Ainda que haja jogo de palavras movimentados pelos interesses imparciais da mídia, poderemos começar a nos municiar para firmar a nossa posição.

Em tempo: Hoje tem programa do PSB, com Ciro Gomes nos holofotes.

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