sábado, 3 de abril de 2010

A distância entre a opinião pública e a grande imprensa.

A distância entre a opinião pública e a posição da grande imprensa brasileira talvez nunca tenha sido tão grande quanto a que vemos hoje. Enquanto a presidente da Associação Nacional dos Jornais e diretora da Folha de São Paulo, Judith Brito, assume a "posição oposicionista" da grande imprensa, diante da fragilidade dos partidos de oposição, o governo do presidente Lula tem um índice de aprovação de mais de 80%. A grande imprensa brasileira não tem mais a mesma força de outrora para guiar os acontecimentos políticos do país o que, de modo algum, a faz desistir. Ao contrário, parece radicalizar suas posições, reforçar o movimento conservador.
Com o jogo eleitoral apenas no início, não se pode menosprezar o papel do partido da grande imprensa (ou partido da imprensa golpista - PIG, como o batizou Paulo Henrique Amorim). No extremo, lembremo-nos da Tribuna da Imprensa nos acontecimentos que levaram ao suicídio de Getúlio.
Mas, de fato, já no plebiscito do desarmamento, com toda a posição favorável da mídia e a derrota do "sim", a população não aceita passivamente o que a imprensa lhe apresenta. A declaração da Sra. Brito torna explícito o que era latente e que passava despercebido, e provavelmente continuará passando, para a maioria dos seus leitores médios. Aos poucos que tivemos acesso e conhecimento do fato, o que nos resta é reverberar.
Mas, além disso, importa refletir sobre as razões da distância entre opinião pública e a da grande imprensa.

Em primeiro lugar, creio que a internet tem um papel decisivo. Segundo o IBGE, pouco mais de 35% dos brasileiros têm acesso à internet. Desse universo, um número bem menor deve ser o que consegue navegar por páginas que não sejam dos grandes grupos de comunicação, e um grupo menor ainda produz conteúdo. Ainda assim, o acesso à informação está mais democratizado e a velocidade com que a informação pode ser repassada impressiona. Dessa forma, os grandes factóides e crises artificialmente construídas se desmontam rapidamente, embora deixem seqüelas, mas afetam cada vez mais a credibilidade da imprensa que usa desses expedientes. O Caso da Veja e da FSP são os mais conhecidos. Relacionado a isso, a queda na venda dos grandes jornais também deve ter influência no processo.
A situação econômica do país nos últimos anos, mesmo considerando a crise financeira internacional, e o amparo às regiões e populações menos aquinhoadas reforçado pelas políticas de transferência direta de renda dão uma sensação geral de que o Brasil está melhorando. Para muitas dessas pessoas, essa sensação é muito mais importante do que as manchetes nebulosas dos jornais, os quais muitos mesmo não lêem.
Por fim, creio que o próprio carisma do Presidente não deve ser negligenciado. Sua imagem e o que ela representa para o povo podem também explicar boa parte da dissonância entre a posição da imprensa, que não se cansa em denunciá-lo das mais variadas formas, de megalomaníaco a estuprador, e a população que o reconhece como um de si.
Analisando o cenário futuro, caso vença a candidata governista, esse fator deve diminuir. A figura de Lula não estará ao seu lado  durante todo o seu governo, e ela não conta com o carisma inigualável do atual presidente. Nesse aspecto, a oposição midiática pode ganhar terreno, e com isso, radicalizar ainda mais a sua posição, exercendo um papel ainda mais oposicionista num possível governo de Dilma Roussef.
Para fazer o contrapeso, o sistema de inclusão digital, banda larga e, principalmente, educação, deve ser colocado no topo das prioridades. E, obviamente, junto com um ótimo jogo de cintura e excelente assessoria de imprensa para o seu governo. A radicalização desse jogo não interesserá ao Brasil. O estigma de Chavizta já está lhe sendo imposto, mas a instabilidade política pode estar sendo gerada do lado oposto.

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