domingo, 24 de janeiro de 2010

Acerca de Chile e Ciro

A discussão do momento diz respeito às semelhanças e diferenças entre as eleições chilenas e o quadro eleitoral de 2010 no Brasil. E, intimamente ligado a isso, o futuro da candidatura Ciro Gomes e as perspectivas que a vitória de Piñera poderia ecoar no lado tucano.

Em relação à possibilidade de transferência de voto de um presidente com alta popularidade como é o caso de Bachelet, há uma contraposição recente que foi o a eleição uruguaia, na qual Tabaré Vásquez, também bem avaliado, conseguiu eleger o sucessor, Pepe Moijca - um ex-guerrilheiro. Tabaré, assim como Lula e o governo do PT, não contava com o desgaste dos 16 anos de governo da Concertação Chilena, e venceu as eleições passando por cima da imagem que a oposição tentou cunhar no seu candidato com relação à sua militância passada, buscando semelhanças com os líderes mais populistas e controversos sul-americanos.

Não é a eleição de Piñera, portanto, que serve de parâmetro único para refletirmos sobre as alternativas das eleições brasileiras desse ano. E, seguindo esse raciocínio, também não deveria servir como desculpa para o deslocamento da candidatura de Ciro Gomes ao governo de São Paulo, como prefere o presidente Lula.

Aparentemente em decadência, como demonstrou o recente estudo de Andre Singer sobre o Lulismo, o sentimento anti-PT ainda existe, e Lula é uma personalidade a parte. A adesão à Lula não garante adesão total ao PT e ao seu candidato, se bem que lhe confere alguma vantagem. Para vencer a eleição, no entanto, é preciso mais do que isso. Daí a necessidade vital que o Presidente perceba na aliança com o PMDB.

Nessa conta, Ciro é, certamente, o candidato reserva à vaga de vice-presidente de Dilma. Mesmo Lula parece ter se posicionado a esse respeito. O PMDB já se movimentou antecipando sua decisão, de modo a indicar que não haverá necessidade de substituição. Sua adesão à chapa governista seria certa.

Enquanto isso, Requião se movimenta. Alguns crêem que o lançamento da sua pré-candidatura responde ao movimento local de atração ao PT ao seu candidato, em detrimento do pedetista Osmar Dias. Eu creio que sua ambição é maior, e os nacionalistas que o apóiam (Mangabeira, Carlos Lessa) também buscam de fato um candidato que vocalize seu projeto. Mais forte, inclusive, que certos diretórios pemedebistas, como o gaúcho, que adotou, com Pedro Simom, uma postura oposicionista e estaria embarcando numa candidatura que se diz lulista, só que mais à esquerda.

Sobre o Rio Grande do Sul, também nos oferece algumas lições. O sentimento anti-pt, somado com o sentimento contra a situação, acabou restando o fortalecimento de uma terceira candidatura. Em 2002, o embate era entre Tarso(PT) e Brito(entao no PPS), e acabou dando Rigotto, que saiu com menos de 5% nas pesquisas. Em 2006, foi a vez de Olívio X Rigotto, e acabou dando Yeda. Calculo as chances de Beto Albuquerque (PSB), num confronto entre Tarso X Fogaça.

Em resumo, a candidatura de Dilma Roussef não sofre nenhum abalo a partir do exemplo da eleição chilena. Suas chances continuam as mesmas, altas. A aliança com o PMDB, se não é programática, com certeza é pragmática, e lhe confere mais vigor.

No caso do Ciro, seria o candidato à vice ideal. Caso o PMDB lance candidato próprio - o que me parece mais próximo do que se lançar na campanha tucana, seu lugar estaria assegurado. Seu deslocamento para São Paulo não deve ser justificado pela divisão da Concertación no Chile, mas pelo reconhecimento de que o sentimento anti-pt em são paulo é grande, e Ciro dá chance a uma candidatura progressista naquelas bandas conservadoras.E, com a falta de carisma até aqui demonstrada pela candidata governista, ainda que em queda nas pesquisas, Ciro concorrendo à presidência representa a possibilidade, mesmo que baixa, de a candidata de preferência de Lula não alcançar o segundo turno, já que Marina, deve se manter ao redor dos 10%.

Se Ciro não concorrer, e nenhum dos candidatos conseguir vencer no primeiro turno, Marina poderá ser a fiel da balança das eleições. Pra onde iria seu eleitorado? Creio que a maioria vai de Serra. Porque o eleitorado fiel do PT e de Lula deve ficar com Dilma. E a classe média atraída pelo discurso da sustentabilidade vai ser levada a se posicionar contra os elementos "perversos" do PAC e da candidata que o sustenta.

De qualquer forma, em qualquer cenário, as eleições devem ser apertadas. Mas, com a chapa PT/PMDB colada à imagem de Lula e com o apoio da candidatura de Ciro em São Paulo, a Dilma ainda me parece favorita.




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