domingo, 17 de janeiro de 2010

Começam os estaduais 2010

Depois de muitos ensaios, o primeiro post do blog acaba sendo sobre futebol mesmo, parte da circunstância que me envolve.

Os atuais clubes-empresas em que se transformaram nossos times os aproximaram da lógica de operação das igrejas neopentecostais. As estratégias do moderno marketing esportivo dos clubes trabalha a paixão do crente, do torcedor. O ato de torcer se converte no ato de consumir os produtos oficiais, os planos de associação, os passaportes para os jogos. O crente, movido por sua fé, contribui periodicamente com a igreja, compra os livros, cartilhas, cânticos e vídeos. Usam de um sentimento elevado para aumentar sua rede e aumentar o seu lucro.

Ao mesmo tempo em que os clubes foram lançados no mercado global por conta da divisão internacional do futebol cujo centro é o mercado europeu, ao qual se agregam agora os novos mercados asiático e árabe, os clubes foram cada vez mais se desterritorializando, se desconectando da comunidade ao seu redor que lhe dava suporte. Os clubes são agentes de um mercado global, movimentam-se por meios de empresários do futebol que se conectam a redes internacionais, e não mais o retrato do esforço da comunidade, para a qual você torcia como parte de torcer por si mesmo.

Assim aprendemos a torcer desde pequenos. Pelos nossos pais, amigos, vizinhos, quando os acompanhamos nos primeiros passeios esportivos. Ficava ansioso quando o meu pai ou meu irmão mais velho me convidavam para acompanhá-los em alguma pelada. A sua vitória era a minha vitória, a nossa vitória. Depois, essa relação se transfere para a escola. Torcemos pelo time da nossa turma, depois pelo time da escola nos eventos inter-escolares. E o mesmo sentimento temos em relação ao time da nossa cidade, que algumas vezes ainda são parte do clube que freqüentamos e somos sócios.

Quando alguém critica os campeonatos estaduais, logo essa relação que me vem a mente. E o que aconteceria com esses times que movimentam, ou movimentaram, as cidades pequenas, os torcedores que apoiavam não apenas o time, mas a sua cidade e queriam vê-la superar a cidade vizinha, sempre rival? Agora, essa relação não movimenta milhões, não gera o espetáculo televiso ao grande público. Mas está na base de todo o negócio que se transformou o futebol.

A evolução do futebol soube aproveitar essas ligações emotivas que temos com o ato de torcer, com a paixão que nos liga a uma instituição, e transformou isso num grande negócio. Você está ligado a um símbolo superior, que toma seu espaço quase naturalmente estimulado pela família ou amigos que crêem. Algumas vezes, toma o espaço da família, o tempo dos filhos, ou, mais forte ainda, se torna parte da família. É mais um filho que você tem que cuidar. Se não cuidar, pode perder, e a culpa será sua.

É por isso que futebol não dá espaço para a racionalidade. É um fundamentalismo aceito e estimulado, embora algumas vezes inclusive violento.

E é por isso que é tão difícil se desvincilhar dele. Que venham os estaduais. Que sejam bem-vindos os clubes do interior.

E dá-lhe Grêmio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário