terça-feira, 29 de junho de 2010

De Getúlio a Lula - e, novamente, ao banco central

Mais uma vez, volto ao livro Brasil: entre o passado e o futuro.
Agora é a vez do artigo do Emir Sader, Brasil, de Getúlio a Lula.
O texto, sucinto para tentar abranger 8 décadas da história social, política e econômica brasileira, discorre sobre os grandes movimentos contraditórios da sociedade brasileira, na defesa do atraso ou afirmação da vontade do progresso, na explicitação de valores pretensamente universais ou defesa do interesse nacional, a articulação do movimento social brasileiro ou a satisfação da redemocratização no plano jurídico-político, a vitória e o fracasso neoliberal dos anos 90 ou a redescoberta do Estado na presente década, já com um país completamente mudado.
Como não poderia deixar de ser, do ponto de vista acadêmico o texto apresente lacunas. Sua passagem superficial por pontos centrais da história brasileira podem questionar a validade de uma ou outra afirmação ou viés interpretativo. No entanto, é válido, do ponto de vista ensaístico, o paralelo estabelecido entre os "Brasis" de Getúlio e Lula, e determinante os desafios aventados para os próximos anos.
O paralelo se dá em três aspectos: a) Governo: tanto em Getúlio, como Jango ou Lula, marcado por coalização de classes, pluriclassistas, que assumiram projetos de unidade e desenvolvimento nacional, com intenso enfoque em políticas sociais; b) a base popular, c) as forças antagônicas são as mesmas, baseadas no hegemonia do capital financeiro, agronegócio e mídia oligárquica.
E, diante disso, os desafios, para Emir, estão na superação da base desses elementos que sustentam os defensores do atraso: hegemonia do capital financeiro, modelo agrícola e a ditadura da mídia privada.
A pergunta que fica é se um possível, talvez agora mais provável, governo Dilma Roussef teria condições e vontade, na nova coalização que se estabelece, de enfrentar esse tripé do antagonismo conservador. Parece sim disposta a discutir um marco regulador para a comunicação, o que, pelos gritos dos velhos oligarcas da grande imprensa tradicional, embora decadente, deve ser muito complicado. No que diz respeito ao campo, suas posições, ora vestindo o boné do MST e ora tentando enquadrar o movimento, não dão certeza de que conseguirá avançar, seja pela força do agronegócio ou pela falta de ousadia no avanço da reforma agrária que, de tão atrasada, já é falsamente acusada de anacrônica. E a hegemonia do capital financeiro se manteve no governo Lula, peso da herança dos anos neoliberais e fruto de escolhas desalinhadas de um governo que, como qualquer outro, não consegue aparar todas as contradições do processo decisório no plano estritamente interno.
O mais dramático, a meu ver, é que essa hegemonia está na base de sustentação desse governo. Se, a base da pirâmide social é acomodada por forte políticas de transferência de renda, o cume é agraciado com a benevolência do rentismo. Se não tão alto quanto no período anterior, ainda a ponto de garantir aos bancos os maiores lucros desse país. Não creio ser correta a insistência numa ruptura do modelo institucional do Banco Central, mas está claro que caberá ao sucessor de Henrique Meirelles um papel central para o êxito do enfrentamento desse desafio. Que, dessa vez, não seja escolhido no ninho tucano ou dentre os representantes do atraso, justamente essas forças antagônicas conservadores apontadas por Emir Sader.

Nenhum comentário:

Postar um comentário