quinta-feira, 17 de junho de 2010

A sociedade que luta

Márcio Pochmann e Guilherme Dias apresentam mais um tópico do livro "Brasil entre o passado e o futuro", lançado no congresso do PT, que venho comentando aqui: A sociedade pela qual se luta . Pareceu-me mais um chamamento à organização social pela luta ao estabelecimento de um novo padrão civilizatório mais adequado à sociedade pós-industrial do que uma ode ao Governo Lula. E esse é, ao mesmo tempo, o grande mérito e a maior fragilidade do texto.

O artigose divide em três partes: Uma caracterização sintética da evolução da sociedade brasileira, com ênfase nas diferenças entre os períodos de governo FHC e Lula(qual sociedade?); a segunda parte destaca os meios que deveriam ser mobilizados para avançar (como e para que lutar?); e a terceira o anúncio de um projeto de sociedade que se quer construir (sociedade de todos no século XXI).

Pochmann discorre aí suas idéias bastante conhecidas - e bem mais desenvolvidas - de outros textos, na qual defende a redução da  jornada de trabalho, a entrada postergada no mercado de trabalho, a educação continuada ao longo da vida ativa, com ganhos de qualidade de vida e aumento do trabalho autônomo da população, que tende a chegar a uma expectativa de vida de 100 anos muito em breve. Invoca a necessidade de se construir um novo padrão de produção e consumo, condizentes com os princípios da sustentabilidade.

São, de fato, idéias inspiradoras de um dos maiores intelectuais brasileiros, na opinião desse modesto blogueiro. E a busca por essa sociedade deve caber à formação de uma nova maioria política sensível a esse projeto. Nessa hora, Pochmann é tímido, esquece que saiu dos gabinetes mofados da acomodada academia brasileira e está a frente de uma das mais qualificadas agências governamentais, o IPEA. Estimula a organização da sociedade para a luta, acomodando as forças do governo na inércia.

Mais ainda, os canais de interlocução da sociedade com o Estado são o ponto mais importante destacado pelos autores quando tratam do "como lutar". Ao lado disso, defendem o papel do Estado no planejamento de longo prazo, no desenvolvimento de um projeto de país, e da instigação da sua ação de modo mais matricial, trans e intersetorial. Turvou-lhe aí o olhar mais crítico para poder apontar que o atual governo, a despeito dos inegáveis avanços, poderia ter feito muito mais a conceber um espaço maior para o planejamento, fazendo-lhe entender a sua essência política, e não o entricheirando nas tecnicalidades formais.

Por fim, é tímido demais também no tratamento da financeirização da economia ao atenuar a força de suas críticas, compreensível no caráter e objetivo do texto que lhe foi encomendado, mas incômodo aos olhos dos muitos que vêem a urgência de avanços mais significativos nessa área e são contrariados com a postura sempre conservadora do Banco Central do Sr. Meirelles.

A mobilização social é, portanto, o norte do texto, que demonstra que as marcas mais sentidas da evolução da humanidade se deu nas bases de uma sociedade que lutou. Em período eleitoral, espero que não nos acomodemos com os acertos do governo Lula que, certamente, recomendam a eleição de sua candidata no quadro sucessório, mas que continuemos lutando.

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